quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Cinematografia oferecida

Eu peço, desde já e de forma desusada, desculpas a Manuel António Pina mas a minha alma portuguesa precisa de uma frase de Fernando Pessoa para tentar criar um crónica que pelo tempo passou para melhor mostrar ao leitor que sensações e sentimentos perpassaram pelo cronista durante e depois da aberta visão que "De tanto bater o meu coração parou".
Isto porque antes é preciso lembrar a grande alegria por ser objecto de prenda d'aniversário este filme que recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim pela Melhor Música: Bach e Brahms


 


"Primeiro estranha-se, depois entranha-se"
Uma relação conflitual, com remorsos do filho para o pai, mas muito amor de família, uma vida profissional cheia de adrenalina interrompida pela mais imaterial das artes, a quase Natureza ela mesma, de material transparente: o ar sonoro (Ferrucio Busoni).
Gosto de filmes (e livros e gente e comida e tanta outra coisa em francês), mas o tipo de foco de imagem utilizada, o balanço dos diálogos, nada me dizia.
Eis senão quando aparece o piano.
Já me aconteceram aulas com uma prof que fala numa língua que eu não entendo, mas com uma intérprete. A furiosa reacção é igual, principalmente quando a prof fala imenso e a intérprete nos dá 2 palavras e nós percebemos que ela nos chamou todos os nomes possíveis e imaginários.
Agora, o que acontece neste aluno da chinesa é pura obsessão, à boa moda romântica (nu, a meio da noite, a gravar-se), diletantemente querendo provar a si próprio que consegue tocar bem.
Tem, o filme, um ritmo extremamente veloz e um momento extremamente perturbador que corta isto: quando o filho vê o pai assassinado.
O fim deixa a dúvida e mesmo antes pensamos que não vai terminar bem.
Mas a música, o ideal, consegue milagres.
Obrigado pela lembrança desse ideal.

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